Da redação Diego Alves
No contexto das leis de incentivo, particularmente aquelas relacionadas à cultura, é notável a escassez de informações precisas. Muitas vezes, o que prevalece são concepções distorcidas e equivocadas, disseminadas sem controle nas redes sociais, alimentando uma percepção maliciosa de que tais programas são meramente instrumentos de privilégio nas mãos de oportunistas. Contudo, a realidade está distante dessa narrativa.
É importante observar que essa percepção, baseada em acusações infundadas, surge de um contexto político marcado pelo oportunismo, desprovido de controle, prudência e punição, típico do ambiente sem regras da internet. Ao contrário do cenário digital, onde as fake news predominam, as leis de incentivo operam sob regulamentações claras e rigorosas, acessíveis a todos os cidadãos.
Através da Lei Rouanet, a AMA – Associação de Amigos do Autista, localizada em Araçatuba, interior de São Paulo, proporciona educação musical para todos os alunos, promovendo o desenvolvimento de capacidades mentais, afetivas, sociais, culturais, psicomotoras e neurológicas. O projeto “A Musicalização e o Corpo”, em atividade há dois anos, não apenas traz programas culturais para pessoas com TEA, mas também incentiva e fortalece a cultura brasileira. Além disso, o projeto facilita a integração, permitindo que os participantes expressem sensações, sentimentos e pensamentos, levando em consideração diferentes interesses e estilos de aprendizado. Isso contribui para o desenvolvimento de habilidades individuais e enriquece o conhecimento musical e corporal dos alunos
“Elaborar um projeto específico para autistas despertou minha curiosidade pelo tema e abriu minha mente para as mais variadas possibilidades de trabalho que pudessem proporcionar experiências artísticas às pessoas com TEA”, explica Josy Martins, idealizadora do projeto A musicalização e o corpo. “Os resultados alcançados têm superado minhas expectativas. Por exemplo, pessoas que não eram verbais agora cantam e balbuciam as melodias das músicas tocadas e cantadas em aula. Também é possível notar uma melhora na cognição e coordenação motora dos alunos. A cada dia, sinto-me renovada, e todos os dias temos uma nova conquista”
Com cerca de 150 alunos, a instituição criada em 1999 tem como um dos fundadores um dos empresários mais bem-sucedidos da região de Araçatuba, Denilton Carlos de Carvalho, proprietário da D. Carvalho, uma empresa que atua no setor de Agronegócios. Pai de um autista, ele está desde então à frente da gestão e do patrocínio da entidade.
“As pessoas com deficiência não têm boa visibilidade em nosso país”, reflete Denilton de Carvalho. “Há muitas pessoas com deficiência trancadas em casa, vivendo apenas de benefícios do governo, sem recursos para tratamentos adequados. As empresas precisam se abrir para projetos que auxiliam essas pessoas. Outro ponto importante seria uma participação maior do governo com campanhas de incentivo para projetos culturais e de educação para pessoas com deficiência. Existe uma falta de conhecimento sobre as leis de incentivo à cultura, principalmente por parte de inúmeras empresas. Notícias falsas e a visão distorcida do governo anterior sobre o tema pioraram a forma como muitos empresários pensam sobre o funcionamento de uma lei como a Rouanet, por exemplo.”
Segundo Fabiano Moreira, gestor da Acriart (Associação Cristã de Artistas) e do projeto Oficinas Itinerantes, do qual a “Musicalização e o Corpo” faz parte, a inserção de projetos de arte-educação em instituições sociais é uma iniciativa poderosa que promove a transformação social e o desenvolvimento integral de indivíduos em situação de vulnerabilidade. Para ele, através da arte, é possível construir um futuro mais justo, inclusivo e cheio de oportunidades para todos
“Pensando na gestão dos projetos, é importante que instituições como a AMA se organizem em observância aos ‘pilares’ importantes para gerir os projetos”, explica Fabiano Moreira. “É importante ter um bom relacionamento com as empresas (potenciais patrocinadoras), uma equipe de comunicação para planejar a divulgação dos projetos, que precisam ser aprovados junto aos órgãos públicos e às empresas patrocinadoras, e também profissionais qualificados para conduzir administrativamente os projetos aprovados até a sua prestação de contas.
Com 64 profissionais capacitados atualmente, a AMA conta com um amplo núcleo socioeducativo (horta pedagógica, musicoterapia, brinquedoteca, informática, educação física, natação, xadrez, jardim sensorial, cozinha pedagógica, casa de boneca pedagógica e projeto alimentação). Todas as atividades são executadas por educadoras, auxiliares de sala e monitoras de atividades. Os atendimentos terapêuticos são executados por uma equipe multidisciplinar que conta com psicólogas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogas, fisioterapeutas, assistente social, enfermeira, técnica de enfermagem e médicos (neurologista e psiquiatra).
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